Impressionante o vigor e vitalidade de Domingos de Oliveira, no auge de seus 71 anos de idade. Em 2009, Domingos lança pelo menos mais um filme e uma peça. E é muito claro, que é essa paixão pela arte que o movimenta.
“Juventude” não é o encontro de velhos amigos velhos. É o encontro de três amigos, jovens, vivídos, cheios de ilusões, desilusões, dúvidas, angustias…como qualquer jovem.
O filme é um ode a amizade e a juventude. Não! Não a juventude de pouca idade, mas o estado de ser jovem. Que é bem mais complexo e interessante.
Domingos nunca foi adepto de grande técnicas, seus filmes continuam sofrendo desse mal. “Juventude” é todo em digital, há lindos momentos visuais, mas em alguns, ora a fotografia estoura, ora ela parece escura demais. Mas não coloquemos a culpa no digital simplesmente, Domingos é mais apegado a um bom texto que um caminhão de maquinaria.
O som as vezes também se torna um problema, com alguns momentos de difícil compreensão, mas isso logo é esquecido com uma bela tirada de Domingos e corte abrupto.
O elenco do filme é um show a parte. O encontro não somente de três amigos, mas de três atores do calibre de Paulo José, Domingos de Oliveira e Aderbal Freire Filho é pra se ficar na história cinematográfica desse país. Os três estão tão bons, que as vezes esquecemos que estamos diante desses monstros da dramaturgia, e pensamos neles somente como David, Antônio e Ulisses.
O elenco, é um presente a parte para o espectador. Paulo José por sinal, esteve no primeiro filme de Domingos de Oliveira, “Todas as Mulheres do Mundo” de 1966. É memorável esse reencontro, 40 anos depois, com tanta vitalidade num filme, que assim como o primeiro, tem tudo pra ficar na historia.
Em 66, no auge do Cinema Novo, Domingos estava mais preocupado em fazer sua arte, que em se ligar a algum movimento ou questões políticas. Assim como a “Bossa Nova” estava a parte de cantores engajados como Caetano, Gil e Chico, o Cinema de Domingos estava a parte o cinema de Glauber e Cia. e mesmo assim, conseguiu ser tão bom e marcante quanto.
Naquela é época, “Todas as Mulheres do Mundo” estava mais pra Nouvelle Vague que o Cinema Novo. Não sei se propositadamente, mas seu cinema, tinha mais cara de Godard que de Glauber. E isso não com um ar de soberba, mas sim, de identificação e simplicidade.
“Juventude” foi vencedor de quatro Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Edição e Prêmio de Qualidade Artística. O ultimo Kikito tinha sido com “Amores”, de Melhor Filme Seleção do Júri em 1997.
Um belo filme, um belo texto, de sensibilidade víscerante. Quanto cinema, “Juventude” poderia ser bem mais do que é, se Domingos se preocupasse mais com a técnica cinematográfica. Mas seu valor ainda assim continua imensurável.
É um filme simplesmente imperdível.
Jair Santana
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