“Juventude”, Domingos de Oliveira, 2008

juventude-poster01Impressionante o vigor e vitalidade de Domingos de Oliveira, no auge de seus 71 anos de idade. Em 2009, Domingos lança pelo menos mais um filme e uma peça. E é muito claro, que é essa paixão pela arte que o movimenta.

“Juventude” não é o encontro de velhos amigos velhos. É o encontro de três amigos, jovens, vivídos, cheios de ilusões, desilusões, dúvidas, angustias…como qualquer jovem.

O filme é um ode a amizade e a juventude. Não! Não a juventude de pouca idade, mas o estado de ser jovem. Que é bem mais complexo e interessante.

Domingos nunca foi adepto de grande técnicas, seus filmes continuam sofrendo desse mal. “Juventude” é todo em digital, há lindos momentos visuais, mas em alguns, ora a fotografia estoura, ora ela parece escura demais. Mas não coloquemos a culpa no digital simplesmente, Domingos é mais apegado a um bom texto que um caminhão de maquinaria.

O som as vezes também se torna um problema, com alguns momentos de difícil compreensão, mas isso logo é esquecido com uma bela tirada de Domingos e corte abrupto.

O elenco do filme é um show a parte. O encontro não somente de três amigos, mas de três atores do calibre de Paulo José, Domingos de Oliveira e Aderbal Freire Filho é pra se ficar na história cinematográfica desse país. Os três estão tão bons, que as vezes esquecemos que estamos diante desses monstros da dramaturgia, e pensamos neles somente como David, Antônio e Ulisses.

 

 

O elenco, é um presente a parte para o espectador. Paulo José por sinal, esteve no primeiro filme de Domingos de Oliveira, “Todas as Mulheres do Mundo” de 1966. É memorável esse reencontro, 40 anos depois, com tanta vitalidade num filme, que assim como o primeiro, tem tudo pra ficar na historia.

Em 66, no auge do Cinema Novo, Domingos estava mais preocupado em fazer sua arte, que em se ligar a algum movimento ou questões políticas. Assim como a “Bossa Nova” estava a parte de cantores engajados como Caetano, Gil e Chico, o Cinema de Domingos estava a parte o cinema de Glauber e Cia. e mesmo assim, conseguiu ser tão bom e marcante quanto.

Naquela é época, “Todas as Mulheres do Mundo” estava mais pra Nouvelle Vague que o Cinema Novo. Não sei se propositadamente, mas seu cinema, tinha mais cara de Godard que de Glauber. E isso não com um ar de soberba, mas sim, de identificação e simplicidade.

“Juventude” foi vencedor de quatro Kikitos de Ouro no Festival de Gramado, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro, Melhor Edição e Prêmio de Qualidade Artística. O ultimo Kikito tinha sido com “Amores”, de Melhor Filme Seleção do Júri em 1997.

Um belo filme, um belo texto, de sensibilidade víscerante. Quanto cinema, “Juventude” poderia ser bem mais do que é, se Domingos se preocupasse mais com a técnica cinematográfica. Mas seu valor ainda assim continua imensurável.

É um filme simplesmente imperdível.

Jair Santana

“Forrest Gump” – Alan Silvestre

Filme: Forrest Gump
Diretor: Robert Zemeckis
Ano: 1994
Música: Forrest Gump Main Theme
Composição: Alan Silvestre
Trilha Sonora do Filme: Alan Silvestre

“Batman – O Cavaleiro das Trevas” – Christopher Nolan, 2008

batman-cavaleiro-das-trevas-poster03“Pra quem achava que não existia vida inteligente no cinemão, assista ‘Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Esse comentário não é meu, e sim de um dos maiores pensadores e críticos de cinema no Brasil, Luiz Carlos Mertem.

“Batman – O Cavaleiro das Trevas” é o mais surpreendente filme de um heroi de quadrinhos realizado até os dias de hoje. Apesar de algumas críticas sobre supostos furos de roteiro, achei o contrario, o roteiro muito bem amarrado. A fotografia noir de Wally Pfister muito bem realizada, com detalhes surpreendentes, como ser mais escura nas bordas que no centro por exemplo. Algo típico do cinema noir e fotografias antigas.

O filme conta com um elenco estrelar, Christian Bale (Bruce Wayne / Batman), Michael Caine (Alfred Pennyworth), Morgan Freeman (Lucius Fox), Gary Oldman (Tenente James Gordon) , que também trabalharam no ótimo “Batman – Begins”.

Mas esse novo filme da série “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, conta com um plus. A surpreendente interpretação de Heath Ledger como o Coringa. Digamos que na minha opinião, não temos um vilão como esse desde o Hannibal Lecter interpretado por Anthony Hopkins em “O Silêncio dos Inocentes” em 1991. Ledger realmente foi uma perda monstruosa para o cinema.

E nesse filme isso fica muito claro. É de emocionar, o fato de que não teremos mais o prazer de vê-lo na tela. Não teremos mais novos filmes com esse, que até então, foi com certeza, o maior ator de sua geração.

 

 

Assim como no primeiro Batman de Nolan, Gothan City é uma cidade caótica no meio de violência, mafiosos, e uma polícia corrupta. Não muito diferente da maioria das grandes cidades do mundo, e talvez, essa aproximação e identificação com o público, seja uma das grandes armas do filme.

Identificação não com um personagem ou outro, mas pelo estado de “cansado” com tudo que está havendo, e a busca, por um herói, não necessariamente, politicamente correto, já que as coisas se encontram em tal ponto, que não mais esperamos, nós cidadãos comuns, e o povo de Gothan, que haja justiça, e sim um justiceiro.

Um detalhe interessante. Acho que o filme ficou tão bom, como ficou por um motivo muito importante. Nolan, além de roteirista e diretor, é o produtor do filme. Ou seja, o filme é como cinema autoral. Algo cada vez mais dificil principalmente nos EUA, mais principalmente ainda em cinema Hollywoodiano. Nolan tem poder absoluto sobre o filme, e isso é o verdadeiro cinema. O produtor não é um artista, o diretor sim.

Fica agora, a espera de um próximo Batman de Nolan. Qual será o vilão que ele irá enfrentar? Será que ainda podemos esperar mais um Batman? Será que ainda cabe mais um Batman desse desse que foi surpreendentemente maravilhoso?

Jair Santana

“Um Conto de Natal”, Arnaud Desplechin, 2008

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Um Conto de Natal

Arnaud Desplechin, diretor de “Reis e Rainhas” de 20004, faz aqui um filme ao avesso a sua ficção anterior, onde cada personagem, tinha uma ligação emotiva e opcional com outro.

“Um Conto de Natal” nos apresenta uma família ligada por convenções sociais, pelo sangue e nada mais. Estar juntos, passar o natal como “uma família” é um grande fardo social.

Irmãos que não se falam, mãe e filho que se odeiam, amores mal resolvidos, enfim, “Um Conto de Natal” apresenta uma família absolutamente normal, e louca ao mesmo tempo, pois aqui, não se precisa fazer “média”, algo que a maioria das famílias na mesma situação, preferem fazer.

Entre algumas situações, no foco principal temos Junon, a mãe, interpretada por Catherine Deneuve, com uma doença grave, precisando de um doador de medula. É gostoso ver Deneuve num papel ambíguo como Junon, ora boa mãe, ora uma megera.

Ironicamente, seu doador compatível é Henri (Mathieu Amalric ), o filho que ela odeia. Os dois vivem se alfinetando o tempo todo. Henri se vê socialmente ou convencionalmente obrigado a fazer essa doação. Mais uma vez, o sangue aparece impondo uma união, que no fundo, realmente não existe.

 

 

Em certo momento, Junon fala pra ele, “Meu corpo está rejeitando seu sangue veja” mostrando manchas pelo corpo após a doação. Isso sintetiza o que sentem um pelo outro.

Nada de moralismo barato, aqui, o texto é sarcástico, ácido e explícito. A família, se tolera, e em alguns momentos, até se diverte, mas nunca esquecendo de suas diferenças.

Um ponto interessante é a fotografia. Realizada como um grande vídeo de família. Muita câmera na mão, o mais naturalista possível, com alguns momentos como vídeos ou fotografias antigas de família. Muito interessante a idéia da fotografia.

Teria tudo para ser um ótimo filme. Boa premissa, ótimo elenco, boa fotografia, mas cai em alguns pontos. Os personagens tentam explicar muito tudo que fazem. Ou seja, o filme tenta o tempo todo explicar as ações seus personagens, e isso é um erro primário de roteiro. Também poderíamos ter uma hora a menos de projeção, o filme é muito longo com sua duas horas e meia. Fica cansativo demais.

Ainda assim, mesmo com esses pontos negativos. Um Conto de Natal” é um filme interessante. Talvez por ser diferente da maioria dos filmes de Natal que estamos acostumados a assistir. Nada de milagres ou finais cheios de lágrimas. É frio e denso, como natal.

Jair Santana

“Another World”, Antony And The Johnsons

 Música: Another World
Album: The Crying Light
Ano: 2009

“Curtindo a Vida a Doidado”, Arthur Baker, Ira Newborn, John Robie e Yello

Filme: Curtindo a Vida a Doidado
Diretor: John Hughes
Ano: 1986
Música: Oh Yeah
Composição: Yello
Trilha Sonora do Filme: Arthur Baker, Ira Newborn, John Robie e Yello

 

“Contato”, Alan Silvestri

Filme: Contato
Direção: Robert Zemeckis
Ano: 1997
Musica: Contact Theme
Composição: Alan Silvestri
Trilha Sonora do Filme: Alan Silvestri

“O Dia em que a Terra Parou”, Scott Derrickson, 2008

 

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O Dia em que a Terra Parou

É preciso, antes de tentar comparar as principais diferenças entre os dois filmes, entender  o contexto histórico dos dois filmes. O primeiro vinha logo depois do término da segunda guerra, e no inicio de uma guerra fria que durou mais de 30 anos. Seu debate principal, era a busca pela paz. O alienígena Klaatu, bem menos ameaçador, vinha trazer uma mensagem de paz entre os homens.

O segundo filme, refilmagem do mesmo roteiro em 2008, dirigido por Scott Derrickson, vem com uma mensagem voltada para o principal problema da humanidade atualmente. A ameaça humana ao ecossistema. A destruição da natureza pelo homem, traz a terra, um Klaatu bem mais ameaçador, com o objetivo de salvar a terra dos seres humanos. E para isso, terá que destruir a humanidade.


Orçado em 80 milhões de dólares, o filme tem bons efeitos, porém nada de novo é apresentado realmente. A revoada de insetos devastadores por sinal, mais parece o monstro de fumaça da série “Lost”.

Diferente da primeira versão também, o foco principal não é o momento em que a terra para realmente, situação onde na primeira versão, Klaatu prova o poder que pode ter sobre a terra.  

O foco fica na perseguição ao alienígena vivido por Keanu Reeves, ator que está cada vez mais a cara de filmes de ficção, até o seu figurino parece ser sempre o mesmo. Temos ainda a personagem Helen Benson, uma astrobióloga, interpretada por Jennifer Connelly. Jennifer dá o clima melancólico que o filme precisa para tocar o coração de Klaatu.



Algumas situações da vida pessoal de Helen soam um tanto exageradas, como a de seu enteado que não esquece o pai, por mais que o pai dele tenha morrido quando o garoto tinha apenas um ano de vida. Na primeira versão, Helen era funcionaria do governo, agora uma cientista.

Chama atenção ainda a personagem Regina Jackson, interpretada pela maravilhosa Kathy Bates. Personagem esse que os críticos americanos ja chamaram de uma mistura de Hillary Clinton e a derrotada candidata à vice-presidência da chapa republicana, Sarah Palin. Certos momentos  também com um tom exagerado, o personagem vale mais pela presença da forte Kathy Bates.

O robô gigante na nova versão veio bem mais assustador, mas manteve as linhas do robô original. Claro, com muita melhorada, pois o da primeira versão chega a ser, digamos…. tosco. Se fez muita critica ao se manter as mesmas linhas no robô, eu porém gostei da releitura.

Algo chega a incomodar de tão gritante, é quantidade de merchandising e tão mal disfarçada. Começa pelo carro, passa por marca de fast food, relógio e até celular. Tudo muito evidente.

Talvez por ser fã de ficção, eu goste do filme mais do que realmente mereça. O final do filme também deixa a desejar, pois nada de se conclui e também não se deixa questões no ar. Mas ainda assim, o filme vale uma conferida. Nem que seja para conferir a refilmagens de um dos maiores clássicos da ficção cientifica. Principalmente claro, aos fãs de ficção.

Jair Santana

“Epilepsy is Dancing”, Antony & The Johnsons

Música: Epilepsy is Dancing”
Album: The Crying Lights
Ano: 2009

 

“Paris, Te Amo”, Tom Tykwer e outros

Filme: Paris, Te Amo
Diretor: Direção Coletiva
Ano: 2006
Música: Paris, je t’aime theme
Trilha Sonora do filme: Tom Tykwer, Reinhold Heil e Johnny Klimek (segmento “Faubourg Saint-Denis”), Pierre Adenot, Leslie Feist, Christophe Monthieux e Marie Sabbah

 

“Ao Entardecer”, Lajos Koltai, 2007

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Ao Entardecer

Segundo filme do diretor Lajos Koltai, que parece estar se especializando em dramas. O primeiro “Sem Destino” foi vencedor de prêmios de fotografia e trilha.

O principal destaque de “Ao Entardecer” é sem sombra de dúvidas a reunião do elenco estrelar, com nomes como Vanessa Redgrave, Toni Collette, Claire Danes, Glenn Close, Meryl Streep e Natasha Richardson.

Curiosa a participalão de Mamie Gummer, filha de Maryl Streep na vida real, que divide o mesmo personagem com a mãe em épocas distintas, o mesmo ocorrendo com Vanessa Redgrave e Natasha Richardson.

Mais que família ou romance, “Ao Entardecer” fala de relações humanas, sonhos, idealizações. O filme, conta as idas e vindas na vida da personagem Ann Grant, vivida por Claire Danes. Seus amores, ilusões e desilusões, sua familia, e sua então, doença terminal.

Sim, existem tem todos os clichês de um bom dramalhão. A morte de um personagem querido, música triste, linda fotografia, lágrimas, mas então podemos afirmar que o filme é dramalhão? Sim,é um dramalhão, e é um bom filme. Um adjeivo não elimina o outro.

Música do polonês Jan A.P. Kaczmarek da um tom maior ainda a tristeza, e até certo peso dramático ao filme, que parece ter um ou dois momentos mais alegres.

Filme pra chorar. Ele muito claramente tem essa pretensão. Para pensar e pra se questionar, sobre nossas decisões, sobre como nos passos hoje, nos guirão a um por uma vida inteira.

 

 

O filme apresenta uns equívocos, na construção dos delírios de Ann, que poderiam ser excluídos sem fazer falta. Na verdade, há um certo exagero nesse sentido. Lajos perde a mão e o objetivo central, quando exagera nos delírios de Ann.

Outro ponto, forte e pouco usado é o elenco. Nomes como Glenn Close e Maryl Streep aparecem mais como uma participação especial. Apesar do nome das duas aparecerem no cartaz. Duas ótimas atrizes pouco exploradas no filme.

O filme prende, emociona, mas não marca. Esqueceremos ele infelizmente, no meio de um monte de outros filmes parecidos. Vale por muitos pontos, mas poderia ser bem mais trabalhado, pois tem muitos elementos para ser um drama inesquecível.

Jair Santana

“Na Natureza Selvagem”, Eddie Vader

Filme: Na Natureza Selvagem
Diretor: Sean Penn
Ano: 2007
Música: Guaranteed
Composição:
Eddie Vadder
Trilha Sonora do Filme: Eddie Vadder

“Rebobine Por Favor”, Michel Gondry, 2008

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Rebobine Por Favor

Ao contrario da maioria do público, que vê o filme como uma grande comédia de paródias, ou dos críticos, que vêem o filme como um debate com a questão memória / tempo, vi, “Rebobine Por Favor”, o novo filme de Michel Gondry, como uma grande ode ao cinema.

Algo meio “Cinema Paradiso”. Claro, cada um em seu estio e tamanho. “Cinema Paradiso” é mais denso e poético, por exemplo. “Rebobine Por Favor” é mais leve e, digamos assim, afetuoso.

Parece uma grande declaração de amor ao cinema pop das décadas de 80 e 90, que provavelmente tiveram algum contato na vida do diretor.

Na verdade, Michel Gondry ficou primeiramente conhecido como diretor de videoclipe, como alguns da cantora Bjork, Massive Attack, Beck, The White Stripes e Radiohead por exemplo.

Gondry nasceu na França, em apenas seu segundo filme, ganhou grande reconhecimento internacional, com seu filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, ganhador do Oscar de melhor roteiro original. Roteiro esse que escreveu ao lado de Charlie Kaufman.

Reconhecido por deslumbrantes efeitos visuais, tanto em seus clipes como em seus filmes, “Rebobine Por Favor” é totalmente avesso a isso. Nada de grandiosos efeitos, apenas a criatividade e materiais toscos, para reproduzir grandes sucessos do cinema comercial.

 

 

Tudo na verdade parece uma grande brincadeira. Porém, dentro dessa brincadeira, Gondry levanta questões interessantes, que vão desde memória versus o novo, e essa memória vai da histórica a afetiva. Como filmes “suecados”. Expressão criada por eles.

Até que ponto, uma obra de arte, seja ela um grande quadro, uma música ou um filme, popular ou não, pode ser copiado, não como autêntico, mas pode ser lido de uma outra forma, sem que possa haver, negociação no meio.

Uma obra de arte deve ter seu acesso facilitado ou dificultado ao grande público? Deve, ou pode existir, ganhos a partir de uma releitura teatral, cinematográfica, musical ou seja lá o que for? O dinheiro é mais importante que qualquer obra de arte (daí as negociações de direitos autorais)? O que devemos considerar obra de arte e objetos comerciais apenas? O que é arte?

Pode-se pensar nisso tudo no filme, ou apenas, divertir-se. Pois “Rebobine Por Favor” é assim. Podemos fazer várias leituras. Como toda e qualquer obra de arte, não há preto no branco.

O final do filme em especial é um grande presente. Nada é fechado. Não sabemos se o final será feliz ou triste. Temos uma bela exibição, e uma questão a se resolver em seguida. Mas façamos melhor, ou melhor, Gondry nos deixou mais confortáveis. Deixamos em aberto. Para que finalizar?

Jair Santana

“Um Sonho de Liberdade”, Thomas Newman

Filme: Um Sonho de Liberdade
Diretor: Frank Darabont
Ano: 1994
Música: The Shawshank Redemption Theme
Composição: Thomas Newman
Trilha Sonora do Filme: Thomas Newman

 

“A Fruta e a Casca”, Manuel dos Prazeres

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Fotografia Silvana Marques

Interessante trabalho de pesquisa de Manuel dos Prazeres, que resultou na peça “A Fruta e a Casca”, encontro de duas Capitus, de Dom Casmurro. Uma mais velha exilada na Suíça, e a outra, ou melhor, a mesma Capitu, mais nova, antes de se casar com Bentinho.

Helena Varvaki e Bianca Comparato dão vida a essas Capitus, sob a direção e o texto de Manuel dos Prazeres, em peça em Cartaz no Teatro Café Pequeno , no Leblon, Rio de Janeiro, até o dia 15 de fevereiro de 2009.

Helena Varvaki e Bianca Comparato se conheceram nas gravações do filme “Anjos do sol”, de Rudi Lagemann. Essa parceria, o texto, enfim, a peça, tem sido sucesso de crítica e público, até mesmo por isso, está em sua segunda temporada.

Bianca vem provando estar acima da classificação de atriz global. Tem marcado presença sim em novelas “Belíssima” e “Beleza Pura”, no cinema com “Anjos do Sol” apresentando um belíssimo trabalho, no teatro com peças como “Últimos Remorsos Antes do Esquecimento”, montagem da Cia Os Dezequilibrados, e agora em mais um projeto “A Fruta e a Casca”. Bianca tem arriscado, e, apesar de seu rosto angélica, tem apresentado papeis mais densos, mais adultos.

Helena Varvaki tem feito apenas pequenas participações em televisão. A maior parter de seu trabalho tem alternado entre cinema e teatro. Esteve em curtas como “A Encomenda” de Alan Minas ao lado de Othon Bastos, e “Penélope”, onde divide a direção com Célia Freitas. No teatro, ficou conhecida com a personagem Sebastiana, de “A Aurora da Minha Viva”, texto e direção de Naum Alves de Souza, em 1984.

Manuel dos Prazeres nos leva a uma viagem gostosa, da premissa de uma possibilidade, onde um mesmo personagem se depara pra conversar com ele mesmo, em dois momentos tão distintos. Ainda mais, imaginar isso, de um dos personagens mais interessantes da literatura brasileira, que é a Capitu de Dom Casmurro.

Aqui, Capitu está com um filho de 20 anos, já separada de Bentinho, morando na Suíça, então, encontra Capitu com 24 anos, no dia que decidiu casar com Bentinho. O encontro dessas duas Capitus, torna-se então, tão interessante quanto a grande questão sobre a possível traição de Capitu.

Capitu, diferente da que está delimitada dentro do livro Dom Casmurro, passa a ter passado e futuro, passa a divagar sobre seus sentimentos, suas angustias, seus sonhos e suas paixões.

Ela se questiona. Seu futuro tenta orientar seu passado, e essa brincadeira, bem realizada, e com o cuidado de se tratar dessa personagem tão polêmica, desperta em seu público uma gostosa e encantadora curiosidade sobre ela. A Capitu de Dom Casmurro.

Jair Santana